Uma mistura que leva casca de mandioca e “grimpas” – galhos da araucária – trituradas e cozidas com água possibilitou a produção de uma bandeja biodegradável. A receita foi criada pelo estudante Lucas Tadao Sugahara Wernick no ano passado, quando ele estava no 8º ano do Colégio Bom Jesus Centro, de Curitiba (PR). A ideia surgiu durante as aulas de Iniciação Científica, quando Lucas começou a pesquisar os materiais e suas destinações.
Hoje, no 9º ano, ele já fez mais de 30 dessas bandejas biodegradáveis, que podem substituir as produzidas com isopor ou plástico. A vantagem é que, ao serem descartadas, as bandejas criadas por Lucas não degradam o meio ambiente. Segundo a pesquisa, elas levam apenas um mês para se decompor, enquanto uma bandeja de isopor pode levar até 700 anos para desaparecer na natureza.
Materiais
Quando iniciou a pesquisa, Lucas descobriu que a grimpa da araucária pode ser aproveitada para a fabricação de compensados. Já a casca da mandioca pode servir de alimento para animais. Mas, ao visitar fábricas e indústrias, ele concluiu que muitos resíduos são descartados.
“Em uma delas, o volume de moagem é de aproximadamente 140 mil toneladas de mandioca por mês, que geram 105 mil toneladas de resíduos, entre sólidos e líquidos, dos quais 25% (26 mil toneladas/mês) são bagaço ou massa residual”, conta o estudante.
“Se há sobras, por que não transformá-las em algo útil?”, questionou. Foi então que Lucas teve a ideia de fazer as bandejas biodegradáveis que, além de funcionais, não oferecem perigo ao meio ambiente.
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Para fabricar uma bandeja, o estudante cozinha os ingredientes moídos em uma chapa quente ou no fogão tradicional. De início, ele usou uma cola para juntar os materiais e dar consistência para a formação do produto. Após várias pesquisas, porém, descobriu que não é necessário o uso da cola e passou a utilizar a própria fécula da mandioca para dar a consistência necessária à mistura. Depois de cozinhar tudo, o estudante coloca um pouco da mistura em uma forma para moldar a bandeja.
“Durante as pesquisas, eu fiz dois testes de biodegradabilidade. Em um deles, coloquei a mistura numa estufa caseira em que a amostra foi enterrada, e levou apenas 30 dias para degradar. No outro teste, em que a amostra foi deixada sobre o solo e exposta às intempéries, levou três meses”, explica Lucas.
Bolsa de estudos
Além das 30 unidades prontas, ele pretende fazer mais e aprimorar a ideia. Com o projeto, Lucas ganhou uma bolsa de estudos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) durante participação em uma feira da instituição. A bolsa deve auxiliar nos gastos que ele terá na continuidade do projeto neste ano. “Eu vou continuar estudando e aproveitar a mistura para fazer placas de revestimentos sustentáveis para arquitetura, decoração e design”, revela.
Cornélio Schwambach, professor do Colégio Bom Jesus e orientador do estudante, diz que a Iniciação Científica e projetos como o de Lucas auxiliam os estudantes a desenvolver habilidades e competências além da sala de aula. “Essas pesquisas também oportunizam ao aluno o contato com a pesquisa científica já desde os ensinos fundamental e médio”, ressalta o professor.
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Histórico e premiações
Lucas começou o projeto em 2023, com o aproveitamento da grimpa de araucária para a fabricação de chapas de madeira aglomeradas, destinadas a diversos usos. Com esse estudo, participou de feiras de pesquisa e iniciação científica pelo país. Em 2024, o estudante iniciou o projeto das bandejas. O trabalho também foi levado para diversas feiras e eventos e recebeu várias premiações.
Além disso, foi convidado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para expor o projeto na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), em Brasília. Ele ainda ganhou o certificado de “Pequeno Pesquisador Cientista”, do Instituto Brasileiro da Ciência e Inovações (IBCI), pelo cientista Charles Duvoisin; o “Certificado de Votos de Congratulações e Aplausos” da Câmara Municipal de Curitiba; e uma bolsa de pesquisa pelo Instituto Araucária (Projeto Napi faz Ciência).